Acolhendo a proposta de meu mestre Tostão, em recente crônica sobre futebol, proponho que Poesia não cansa, e passo à minha tradução de soneto de FEDERICO GARCIA LORCA - seguida do original .
Não me deixes perder o alumbramento
dos teus olhos de estátua, nem o gosto
com que de noite me rocia o rosto
a solitária rosa de teu alento.
Tenho medo de ser neste momento
tronco sem ramas; e o maior desgosto
é que não tenha a flor polpa nem mosto
que se corrôa com meu sofrimento.
Se tu és meu tesouro e oculto estio,
se és minha cruz e meu magoado anseio
se sou o cão que faz teu senhorío,
não me deixes perder o que me veio:
decora as águas jovens do teu rio
com folhas do meu vago outono alheio.
Tengo miedo a perder la maravilla
de tus ojos de estatua, y el acento
que de noche me pone en la mejilla
la solitaria rosa de tu aliento.
Tengo pena de ser en esta orilla
tronco sin ramas; y lo que más siento
es no tener la flor, pulpa o arcilla
para el gusano de mi sufrimiento.
Si tu eres el tesoro oculto mio,
si eres mi cruz y mi dolor mojado
si soy el perro de tu señorío,
no me dejes perder lo que he ganado
y decora las aguas de tu rio
con hojas de mi otoño enajenado.
- Renata Pallottini
- Nascida em São Paulo, em 20 de janeiro de 1931, cursou Direito, Filosofia e Dramaturgia. Escreveu e produziu trabalhos para teatro e televisão, entre os quais Vila Sésamo, Malu Mulher e Joana. Publicou livros de poesia, prosa, teatro e ensaios. Foi professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e da Escola de Arte Dramática (EAD) da Universidade de São Paulo, além de ministrar cursos de dramaturgia no Brasil e no exterior. Desde 1988 faz parte do corpo docente da Escuela Internacional de Cine y Television de San Antonio de los Baños, em Cuba. Coordenou e participou da Anthologie de la poésie brésilienne, publicada em Paris, em 1998, e que reuniu quatro séculos de literatura brasileira. No mesmo ano, integrou o júri do Prêmio "Casa de las Américas", em Cuba. Vive em São Paulo e às vezes em Atibaia.
Muito boa a tradução ! Yara
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